quarta-feira, 23 de setembro de 2009

"Meu sonho é tocar na Rodoviária"..Tom Zé.

Que venha!!!!

Um dia, pouco antes do encontro com Byrne, Tom Zé conseguiu um show para fazer no Sindicato dos Bancários da Praia Grande, junto com uma serie de outros músicos de vários estilos. Na hora da sua apresentação, a platéia, que se animou com o forró de Gereba e a MPB de Garfunkel, ficou agitada. Ninguém prestava muita atenção, as crianças pulavam e se mexiam na frente do palco. Tom Zé pensava: "Que diabo esse povo tem a ver com isso?". No carro, na volta para São Paulo, onde Tom Zé mora com a mulher, Neusa, o síndico do seu prédio falava na Excelência dos artistas que tocaram. Tom chegou em casa chorando e disse para Neusa que tinha decidido voltar para Irará, na Bahia, para tomar conta do posto de gasolina de seu sobrinho.
Mas ele não foi. E se dedicou a tentar resolver seu problema: fazer sua música chegar àquele povo. Dono de uma inteligência privilegiada e uma cultura invejável, Tom Zé repudia o discurso que acusa a massa de mediocridade. O seu drama, porém, é justamente conciliar a sofisticação de suas próprias idéias e de sua concepção estética com o seu desejo, que é também uma postura política, de ser um artista popular. "Meu sonho agora é tocar na rodoviária e nos bordéis", diz ele a República nesta entrevista. Ele se culpa toda vez que não consegue se fazer entender, mas, na hora de criar, o que surge é complexo, ainda que divertido, como os móbiles de Alexander Calder. Na verdade, tudo o que quer é ser aceito - desde a época em que vivia na Bahia, quando a família de sua mãe o discriminava por ser do sertão, filho de um homem sem grande cultura. Hoje - apesar de seu CD de 1998, Com Defeito de fabricação, ter vendido 30 mil cópias -, ele talvez ainda seja discriminado, mas por ter cultura demais. Tom Zé acredita que é só uma questão de acertar arestas para que suas músicas possam atingir o gosto comum. E acha que está próximo de alcançar seu objetivo.


TÂNIA NOGUEIRA, Revista República