terça-feira, 16 de novembro de 2010

foto do Mauerpark em Berlim/Alemanha, de Agnes Krolik


(referência: artigo da Internet)

EDUCAÇÃO ESTÉTICA DA COMUNIDADE

PARA A ARTE CONTEMPORÂNEA

Bia Medeiros e

Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos

"Existem espaços reservados à arte, como existem os espaços reservados aos loucos, aos velhos, aos doentes, às mulheres, às crianças…

"A prisão... A forma-prisão... Ela se constituiu fora do aparelho judiciário, quando se elaboraram, por todo o corpo social, os processos para repartir os indivíduos, fixá-los e distribuí-los espacialmente, classificá-los, tirar deles o máximo de tempo, e o máximo de forças, treinar seus corpos, codificar seu comportamento contínuo, mantê-los numa visibilidade sem lacuna, formar em torno deles um aparelho completo de observação, registro e notações, constituir sobre eles um saber que se acumula e se centraliza." (1)

Quando os Impressionistas criam o Salão dos Independentes, de certa forma, eles fundam uma nova maneira do artista se colocar diante da sociedade. Optando por atingir o público, sem passar pelo crivo de instituições oficiais, eles afirmam sua liberdade diante destas. Movimentos artísticos imediatamente posteriores, se exprimiram por manifestos, manifestos que por um lado legitimam o trabalho do grupo e o reconhecem como tal, por outro lado formam o público.(2) As exposições passaram, também, a ser acompanhadas de discussões teóricas e outras publicações.

Com os Ready-mades de Marcel Duchamp, os artistas se tornaram, não somente criadores de imagens, catadores de objetos, e objetos de ações artísticas, mas tornaram-se mais conscientes do poder de questionamento da arte. Desenvolveu-se, então, uma atitude crítica, necessária e imprescindível, devendo esta conter uma análise dos meios utilizados, e uma relação responsável para com o público. O desenvolvimento histórico destas reflexões nos levam ao posicionamento que mais tarde virá a ser o de alguns artistas conceituais, que se querem críticos, cuja arte não se limita à produção de obras, devendo também construir a capacidade a reconhecer um trabalho como arte, isto é, criar a obra e formar o olhar do espectador. Emmanuel Kant foi o filósofo que exprimiu este pensar em sua Estética.

Os espaços nos quais são expostos e discutidos trabalhos artísticos, sejam eles espaços normalmente reservados à arte: espaços institucionais, convencionais, galerias, isto é, IN-SITU; ou não habitualmente reservados para este fim, não institucionais e/ou não convencionais, isto é, EX-SITU, não são nunca neutros. Diversos questionamentos podem derivar desta não neutralidade do espaço (e do tempo), porém fixem-nos nas questões relativas ao IN e EX-SITU. O espaço, o ambiente, onde é mostrada a obra é elemento modificador desta enquanto espaço que, estando ao redor, situa a mesma. Do todo apreendido pelo espectador, a obra de arte é fragmento, logo este todo constitui-se parte da especificidade de cada obra. Espaços reservados à arte são clausuras reais, além do enclausuramento simbólico. Apenas iniciados se sentem convidados ao IN-SITU, apenas iniciados ousam penetrá-los. O artista é assim frustrado de uma ressonância social.

Diversas circunstâncias levaram artistas a expor em espaços não, normalmente, reservados à arte. Podemos citar os projetos que não se adaptam às estruturas físicas de museus e galerias; os projetos que não se adaptam à ideologia destes espaços e os projetos que incomodam, voluntária ou involuntariamente, e não são aceitos. Assim procura-se deliberadamente espaços diferenciados baseados em necessidades físicas dos projetos e/ou em atitudes contestatórias. Muitos foram os museus e galerias recentemente reformados para poder conter projetos contemporâneos, novas estruturas arquitetônicas. No entanto, estes restam instrumentos da ideologia (3), e as obras aí presentes estão esvaziadas de quaisquer propostas perturbadoras, questionadoras ou contestatórias. A legitimização relativiza qualquer conteúdo, seja ele crítico ou não.....(continua..)"