sábado, 20 de novembro de 2010

Maxim Malhado

(FONTE DO TEXTO-iNTERNET)
Críticas

"Em seu escrito Inside the White Club, Brian O'Doherty, já em 1976, criticava o mito da neutralidade do espaço dos museus e galerias, do cubo branco, que aparece como sinônimo de uma arte norte americana/européia, que elimina todas as diferenças sociais, sexuais, religiosas, étnicas, em nome de uma autonomia estética e de uma linguagem formal universal, omitindo, assim, as condições em que se originou a arte. O espaço da galeria tinha que ser branco e limpo, para que ficasse livre de toda e qualquer experiência, que não a estética. No cubo branco, ao se despirem as obras de arte de sua historicidade, negou-se à arte o direito de participação na construção da realidade.

Sobre o pano de fundo da crítica ao cubo branco, artistas vêm, desde os anos setenta do século passado, fazendo das condições sob as quais a arte é produzida e distribuída o tema de sua arte. Assim, surgiu, no contexto dos debates sobre a apresentação da arte no cubo branco, a noção de que a estética e as instituições que a alojam são, elas próprias, parte da problemática da modernidade. Da modernidade, surgiu a modernidade crítica, que trouxe de volta para o cubo branco todos os contextos econômicos, ecológicos e sociais que dele haviam sido eliminados, possibilitando, assim, um retorno do real à arte. Com Lyotard, pode-se chamar a crítica ao cubo branco de pós-moderna, se com isso se entende o 'aprofundamento' da modernidade.

A crítica radical de Maxim Malhado é evidente. Ele rejeita o princípio ordenador do cubo branco. A sala de exposições não serve, aqui, como espaço da bela aparêcia, mas é a tela onde se projeta uma realidade construída, que se entende frágil, incompleta e em curso.

Malhado utiliza formas de expressão que o fascinaram no interior da Bahia: desenhos aparentemente sem método, para não dizer banais, feitos a giz em paredes de casas abandonadas, são por ele transportados para o ambiente urbano da sala de exposições e aplicados diretamente na parede. Sem molduras, sem estetizações que pudessem dar suporte à pretensa obra de arte. Ele mostra as coisas como elas são. No entanto, ao deslocar o contexto de origem para o espaço da galeria, ele faz com que o olhar do visitante se volte para a poesia nua do quotidiano. Coerentemente, ele desenvolve textos que devem ser entendidos menos como comentários, e mais como paráfrases das coisas reais.

Também com o segundo trabalho, Sobressalto, ele alcança uma insistência desconcertante. Um espaço que, a princípio, dá a impressão de ser intransitável, nega-se a fazer sentido. A instalação, semelhante a um canteiro de obras, torna-se acessível apenas quando o visitante transforma-se em participante, passando a explorar o novo espaço. A experiência física do labirinto, do estar-perdido no espaço, baseia-se no princípio criador do deslocamento: 'o corpo - a casa' - o confronto entre o indivíduo e a representação social, corpo e espaço, organismo e história construída - novamente, são o diálogo e a contradição que constituem o tema central deste trabalho".

Peter Anders - Diretor do Goethe Institut de Salvador, Bahia

ANDERS, Peter. [Texto de apresentação]. In: MALHADO, Maxim. Intermédio. Salvador: Instituto Cultural Brasil Alemanha, 2001. folha dobrada il. p&b. color.