Este clássico da sociologia
urbana analisa a construção de Los Angeles e suas características de
metrópole milionária e miserável simultaneamente – características essas
que podem ser reconhecidas no Brasil, assim como em qualquer metrópole
do Terceiro Mundo.
A área metropolitana de Los Angeles, no final da década de 1980, pode
ser compreendida como a metáfora de um desajuste estrutural do sistema,
cuja orientação se dá na busca incessante e incondicional pelo lucro
máximo, que “constrói espaços urbanos vazios de qualquer humanidade”,
nas palavras de Ricardo Lísias, que assina a orelha da obra.
Em Cidade de quartzo: escavando o futuro em Los Angeles, Mike
Davis discorre sobre as entremeadas e complexas características da
cidade norte-americana, como a especulação imobiliária, a paranoia dos
condomínios fechados, a corrupção das autoridades, a violência urbana e o
transporte individual em automóveis nas estradas congestionadas.
É um retrato do contraste entre políticas públicas mercadológicas e
liberais, e a marginalização histórica de estratos sociais e migrantes –
quadro que reverberou em eclosões violentas na década de 1990, como
previu Mike Davis. A corrupção e a burocracia emergem como a expressão
do fracasso da política enquanto possibilidade de acordo.
Conforme constata Roberto Monte-Mór na apresentação desta edição, Mike
Davis “desnuda o jogo dos interesses locais ou localmente manifestos a
partir das determinações distantes, em suas várias escalas, construindo
uma leitura muito aguda e arguta da economia política da produção do
espaço de Los Angeles, ao mesmo tempo em que expõe as ideologias
subjacentes à visão hegemônica de uma LA cada vez mais glamourosa diante
da crescente globalização, conseguida ‘às custas da justiça social’,
como ele mesmo diz”. Para complementar o quadro, Cidade de quartzo traz
ainda um primoroso ensaio fotográfico de Robert Morrow.
Trecho do livro
Cidade de quartzo, para usar um desses termos parisienses que eu
geralmente tento atropelar com minha picape, é a biografia de uma
conjoncture: um desses momentos carregado de paradoxo e não-linearidade
quando correntes da história até então separadas convergem de súbito
para conseqüências profundamente imprevisíveis. Em suma, trata do
impacto contraditório da globalização econômica sobre os diferentes
segmentos da sociedade de Los Angeles.
Sobre o autor
Mike Davis nasceu na cidade de Fontana, Califórnia, em 1946. Abandonou
os estudos precocemente, aos dezesseis anos, por conta de uma grave
doença do pai. Trabalhou como açougueiro, motorista de caminhão e
militou no Partido Comunista da Califórnia meridional antes de retornar à
sala de aula. Aos 28 anos, ingressou na Universidade da Califórnia de
Los Angeles (Ucla) para estudar economia e história. Atualmente, mora em
San Diego, é um distinguished professor no departamento de Creative
Writing na Universidade da Califórnia, em Riverside, e integra o
conselho editorial da New Left Review. Autor de vários livros, entre
eles Ecologia do medo, Holocaustos coloniais, O monstro bate à nossa porta (Record) e Planeta Favela (Boitempo).
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