blog que trabalha com teorias estéticas, filosofia e filosofia da arte. procura abordar signos do nosso dia a dia e como a arte é inserida no popular.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
foto II
Os artistas:
Antônio Augusto Bueno, Carla Magalhães, foto II, e Loraine Oliveira...presente (virtualmente na rodoviária) com foto acima, foto I, posando em frente a um templo egípcio (segundo ela) ...fez a foto para o adesivo- as flores!. Antônio fez foto dos galhos e colocou galhos em cima do Cubo, e Carla fez foto do "não estacione" e projeto do Cubo.
Agradecimentos : Ubiran Fernandes pela montagem do Cubo, Ubirajara Fernandes pela ajuda na arte, Olímpio Fernandes por ajudar na concepção do Cubo.
e ..Jucelí Beck e COPY STAR por fazerem a impressão dos adesivos.
fotos rodoviária, do Cubo... de carla magalhães
Julian Schnabel, pintor, diretor de cinema, fotógrafo
fonte do texto e foto: Internet
O Escafandro e a Borboleta (Julian Schnabel, 2007)
Asas, amarras e vôo
O que é visto e expresso nas obras cinematográficas do diretor Julian Schnabel não negam suas origens. Schnabel começou sua carreira na área artística como pintor, ainda nos anos 80, chegando até mesmo a conhecer Jean-Michel Basquiat (fato que talvez o tenha inspirado a fazer o filme biográfico sobre o artista, em 1996). Seu cinema é pictórico e recheado de materiais aparentemente estranhos a uma composição fílmica sem cunhos surreais (como o próprio título O Escafandro e a Borboleta poderia sugerir), porém perfeitamente adequado a mensagem que passa, a qual chega a poetizar uma quase sempre dura realidade explicitada nas telas.
Após Basquiat (1996) e Antes do Anoitecer (2000), um terceiro filme biográfico vem a tomar a cena em renomados festivais, como o de Cannes, que rendeu a Schnabel o prêmio de melhor diretor, e também a dar o devido reconhecimento tardio a esse diretor americano. O Escafandro e a Borboleta expõe a delicadeza da situação vivida por Jean-Dominique Bauby (interpretado pelo talentoso Mathieu Amalric), antes redator da famosa revista francesa de moda Vogue, que sofre um acidente vascular cerebral enquanto dirigia.
O despertar do filme logo traz como é o novo mundo para ele: olhos (que na verdade canalizam apenas no olho esquerdo) e sua própria consciência. Essa vida nos é entregue de maneira singela e brilhante, com a visão do próprio jornalista: sua comunicação reduz-se a piscadas de um olho, que se traduzem primeiramente em “sim” ou “não” as suas palavras, e posteriormente em um alfabeto completo, organizado de acordo com a prioridade de uso das letras em seu dia-a-dia. Esse recurso do alfabeto, elaborado por uma fonoaudióloga, servirá de meio para a elaboração de seu livro, vagarosamente ditado por seu olho à cuidadosa e paciente Henriette (Marie-Josée Croze). Escrever mantém Bauby vivo, mantém a esperança da vida acesa, há a recusa do fado arruinado. O processo é acompanhado letra a letra, sem se fazer sentir o cansaço por quem o vê.
Uma grande parte do filme é feita em câmera subjetiva, com ângulos de vista bastante restritos, que imitam a limitação de mundo enfrentada por Jean, assistimos à realidade de acordo com seu olho esquerdo e suas respectivas piscadelas. Esse abrir e fechar das pálpebras é criado pela abertura e fechamento do diafragma da câmera. Soa monótono e desinteressante um filme que se pauta em um homem que tem apenas a capacidade de piscar um dos olhos, mas a montagem não nos deixa perder o interesse pela história. Flashbacks aparecem intercalados em meio às cenas do homem já séssil, e indicam como era a vida de Bauby antes do acidente. Um homem influente, em constante contato com bonitas mulheres, em um mundo de poder e glamour, para o atual inabilitado e imóvel Jean-Dominique, esquecido nos finais de semana no hospital no qual vive. Eis o contraste entre as duas vidas de Bauby, construído de maneira sutil, sem beatificar o indivíduo do pré-acidente.
Os espectadores têm acesso a seus pensamentos e sua consciência em pleno funcionamento através da voz off. A borboleta das idéias voa livremente e bate asas sem quaisquer limitações, enquanto seu corpo mantém-se em um escafandro pesado e fechado. Essa metáfora do escafandrista é lembrada pelo diretor por vários momentos, com cenas de um mergulhador solitário imerso em águas pouco claras. As imagens são trabalhadas em tons variados, e não se deixam morrer quando o assunto principal é o arredor do hospital: no mar, na praia, nas paisagens há vida, uma mente em constante pensamento deixa-se voar. Assim, cores brilhantes, fortes e vivas imperam, fruto de uma fotografia muito bem construída por Janusz Kaminski, fotógrafo polonês.
O amor à vida, nem sempre compreendido, é o tema de Julian Schnabel. De certa forma, a arte faz a vida, monta a sobrevivência para os protagonistas de seus filmes anteriores (Basquiat das ruas às galerias de exposição; Reinaldo Arenas das prisões com nomes afáveis ao exílio e às letras), e essa lógica não foge a O Escafandro. Bauby luta e respira para o seu vôo, para a sua libertação do escafandro rumo a um mundo que já não lhe é mais permitido. E só termina de respirar pouco tempo após a publicação de seu livro, de mesmo nome ao do filme. Seu último vôo é o mais trabalhoso, cansativo e belo. E Julian Schnabel faz jus à beleza dessa luta, criando ser um dos filmes mais merecedores de prêmios e aplausos dos anos de 2007 e 2008.
Juliana M. M. Soares é graduanda em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)