sábado, 7 de fevereiro de 2015

Corruption - it's the private sector

Corruption - it's the private sector

POR VINCENT BEVINS
20/12/13  17:58
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Corruption isn’t mostly about politicians. In its present form, it means that powerful companies dominate Brazil. Above, what corruption looks like.
In Brazil, one simple image of corruption is often dominant:  some politician, usually an overweight middle-aged man, grabs money from the public coffers, stuffs it into a big sack, and takes off to spend it in Miami or some tacky São Paulo nightclub. The politician gets rich, and the taxpayer gets poorer.
But this is an overwhelmingly one-sided view of what corruption is, as an excellent column from Kenneth Maxwell points out, and neglects the larger role that hugely profitable companies play in the schemes in order to screw over the Brazilian people.
[Este texto foi traduzido em Novembro de 2014. Para ler em Português, clique aqui.]

Corruption in its concrete form these days involves actors in the private sector, “free market” players, paying off public officials to avoid regulation, taxes, or get away with exploiting consumers, workers, and the public. These corporations are getting more out of it than the politicians, or they wouldn’t be doing it.
The recent spate of scandals to emerge – much bigger than the “mensalão” case dominating the country’s media for a decade – confirms this model of corruption. The R$500m “ISS Mafia” scandal allegedly involved public officials delivering favors in return for big payouts from construction companies and banks. The “Trensalão” involved foreign companies forming a cartel in a bid to provide horrid public transportation in São Paulo. And if we find out, as expected, that this World Cup was riddled with corruption, it will have been construction companies paying off politicians, who then allowed the corporations to get rich, trample on health and safety guidelines, perhaps leading to deaths, and maybe – just maybe – embarrass the country as they drag  their feet on stadium deadlines.
The simple rules of the market are proof that the private sector gets more out of this than the fat-cat politicians. Since these companies are maximizing profits, they wouldn’t be paying the bribes if they didn’t get more in return. The politician is the tool, or the part of the state dominated by economic power, and the company is the real winner.
Though slightly more complicated than a comic-book villain politician raiding the public purse, this is how corruption really affects our daily lives. If you want to see evidence of corruption in São Paulo, you can take a look at Paulo Maluf‘s bank accounts, sure. Or you can just walk around the city, and take in what it feels like to be in an urban environment where every square inch of public space was sold off to build a high-rise apartment building, where public transportation is an insult, and where you constantly are invited into one more godawful shopping mall.
This is not because some politician got rich. It’s because some corporation got to walk all over the city in exchange for a payout.
Or check your phone bill and your bank statement, and see how much you got screwed this time. Try calling them up, and see how eager they are to help. In this case, we have no evidence of direct ‘corruption’, but they do break all kinds of laws, and get away with it.
Of course, in “advanced” democracies like the United States, the “corruption” of the state works through legal channels. Corporations give untold sums to political campaigns, and the rest of us are left wondering afterwards if perhaps that will influence the way we are governed. But at the very least, this process is relatively transparent.
In Brazil, there is an ideological consequence to the over-simplified view of corruption, and it serves to reinforce a view that has been common amongst certain policymakers and undergraduate economics students since the 1980s. That is: that the state is bad, it always messes up or steals, and we need to get rid of it wherever possible. But looking at corruption in its real form could lead to something closer to the opposite conclusion. The government we vote for and pay taxes to can easily be dominated by private companies, who then go on to dominate us. We need the government to be strong, reliable, and responsive,  so they can hold the companies back.
1,4 mil1591

A corrupção está no setor privado


A corrupção está no setor privado

POR VINCENT BEVINS
17/11/14  14:52
2,0 mil1056

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Os políticos não são o centro da corrupção. Hoje, ela é protagonizada por grandes empresas que conseguem dominar o Brasil. Acima, veja as consequências da corrupção.
A imagem de corrupção que domina o imaginário do brasileiro é: um político, normalmente um homem acima do peso e de meia-idade, que pega dinheiro dos cofres públicos, enfia em um grande saco e vai ostentar em Miami ou em alguma boate luxuosa e cafona em São Paulo. O político fica rico e a população, pobre.
Mas essa é uma visão extremamente limitada, que só inclui o lado menor do que é, de fato, a corrupção, como aponta esta excelente coluna de Kenneth Maxwell. Ela oculta o importante papel que companhias privadas altamente lucrativas exercem nos esquemas que prejudicam a população brasileira.
[Este texto foi escrito originalmente em inglês em 2013, antes dos mandados de prisão expedidos contra executivos de empreiteiras supostamente envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobras. Traduzimos hoje devido a pedidos.]
[To read the original in English, published before executives at major construction companies were jailed in the Petrobras scandal, click here.]

Atualmente, a corrupção é praticada por atores no setor privado, personagens do “mercado livre” que pagam funcionários públicos para evitar fiscalização e impostos ou para poder explorar os consumidores, trabalhadores e público. Essas corporações lucram mais com o jogo do que os políticos – se não, elas não fariam isso.
A recente onda de escândalos – muito maiores que o Mensalão, que dominou a mídia brasileira por uma década – confirma este modelo de corrupção. Amáfia do ISS causou prejuízo de cerca de R$ 500 milhões aos cofres paulistanos e, supostamente, envolveu funcionários públicos prestando favores em troca de propina de construtoras e bancos. Já no Trensalão, empresas estrangeiras formaram um cartel a fim de perpetuar o já horrível transporte público de São Paulo. E, se descobrirmos que a Copa do Mundo foi mesmo marcada pela corrupção, ela terá sido das construtoras, que pagaram os políticos, que permitiram que estas lucrassem e pisoteassem nas diretrizes de saúde e segurança, possivelmente levando a mortes, e talvez – só talvez – envergonhando o país ao atrasar a entrega de estádios.
As simples regras de mercado são prova de que o setor privado ganha mais com isto do que os políticos. As companhias estão maximizando seus lucros, e elas não estariam pagando subornos se não houvesse retorno. O Estado é dominado pelo poder econômico, apenas uma ferramenta usada pelas empresas, as verdadeiras vencedoras do jogo.
Apesar de a situação ser um pouco mais complexa do que “políticos malvados de histórias em quadrinhos roubando da população”, é assim que a corrupção afeta o nosso dia a dia. Se você quiser procurar por suas evidências em São Paulo, pode tentar achar as as contas bancárias de Paulo Maluf, sim.
Mas, para ver as provas concretas, basta dar uma volta pelas ruas para notar como é viver em uma cidade cujo espaço público inteiro foi vendido para a construção de prédios residenciais de alto padrão, onde transporte público é ignorado, e você é constantemente convidado a entrar em mais um shopping horroroso.
Isso não acontece porque algum político ficou rico. Acontece porque foi permitido que alguma corporação usufruísse da cidade em troca de grana.
É tão óbvio que grandes empresas dominam este país, que chega a ser risível. Basta checar sua conta de telefone ou seu extrato bancário para sentir o quão prejudicado você foi neste mês. Checou? Agora tente ligar para eles e note a vontade e o esforço dispensados para lhe ajudar. Nestes casos, não há evidências concretas de corrupção, mas essas empresas infringem todos os tipos de lei e saem ilesas.
Em democracias “avançadas”, como a norte-americana, a corrupção do Estado funciona através de canais legais. As corporações doam somas incalculáveis para as campanhas políticas – e sobra à população imaginar se, talvez, essas doações teriam influenciado o governo. Mas, pelo menos, trata-se de um processo relativamente transparente.
No Brasil, há uma consequência ideológica desta visão simplificada da corrupção, que reforça a ideia que algumas autoridades e estudantes de Economia perpetuam desde os anos 1980: o Estado é desprezível, sempre estraga tudo ou rouba da população, e nós precisamos nos livrar dele o mais rápido possível. Mas observar a verdadeira face da corrupção pode levar à conclusão oposta. Já que o governo que a população elege e para o qual paga impostos pode ser facilmente dominado por empresas privadas, é necessário que ele seja forte, confiável e atuante para impedi-las.